Depois de uma tarde envolta em tristeza, a tristeza de alguém a quem quero particularmente bem, deprime-me sempre, o serão foi calmo e tranquilo q.b.
Ainda antes do simpático jantar, a opção havia sido uma ida ao cinema, por exclusão de partes, acabámos a ver o filme Duplo Amor.
Leonard (Joaquin Phoenix), um homem atraente mas perturbado, regressa à casa de infância após uma tentativa de suicídio. Enquanto recupera, sob o olhar atento dos seus preocupados mas, no fundo, pouco compreensivos pais (Isabella Rossellini e Moni Monoshov), ele conhece, quase ao mesmo tempo, duas mulheres.
Michelle (Gwyneth Paltrow), uma bela e misteriosa vizinha - exótica e meio deslocada no bairro de Leonard, Brighton Beach, que parece carregar consigo, também, sérios problemas. Entretanto, os seus pais tentam empurrá-lo para Sandra (Vinessa Shaw), a encantadora e atenciosa filha do empresário suburbano que vai comprar o negócio da família.
Numa primeira fase, não resistindo à sensualidade de Sandra (e à pressão da família), Leonard descobre, gradualmente, uma oculta intensidade emocional nesta mulher. No entanto, um potencial romance com Sandra é complicado.
Mas Michelle e a sua vida em espiral fora de controlo, agarrando-se à ajuda de Leonard para solucionar o caso destrutivo que tem com outro homem, também se tornam sufocantes para ele.
Ainda antes do simpático jantar, a opção havia sido uma ida ao cinema, por exclusão de partes, acabámos a ver o filme Duplo Amor.
Leonard (Joaquin Phoenix), um homem atraente mas perturbado, regressa à casa de infância após uma tentativa de suicídio. Enquanto recupera, sob o olhar atento dos seus preocupados mas, no fundo, pouco compreensivos pais (Isabella Rossellini e Moni Monoshov), ele conhece, quase ao mesmo tempo, duas mulheres.
Michelle (Gwyneth Paltrow), uma bela e misteriosa vizinha - exótica e meio deslocada no bairro de Leonard, Brighton Beach, que parece carregar consigo, também, sérios problemas. Entretanto, os seus pais tentam empurrá-lo para Sandra (Vinessa Shaw), a encantadora e atenciosa filha do empresário suburbano que vai comprar o negócio da família.
Numa primeira fase, não resistindo à sensualidade de Sandra (e à pressão da família), Leonard descobre, gradualmente, uma oculta intensidade emocional nesta mulher. No entanto, um potencial romance com Sandra é complicado.
Mas Michelle e a sua vida em espiral fora de controlo, agarrando-se à ajuda de Leonard para solucionar o caso destrutivo que tem com outro homem, também se tornam sufocantes para ele.
Quando Michellle parece estar condenada a apaixonar-se por Leonard e a família de Leonard o pressiona a comprometer-se com Sandra, ele vê-se forçado a tomar uma decisão impossível - entre a impetuosidade do desejo, arriscando-se a cair na obscuridade que quase o matou, ou o conforto do amor.
Amália Rodrigues serve de pano de fundo, várias vezes durante Duplo Amor. Canta Estranha Forma de Vida, como se tivesse sido escrita de propósito para o filme. É uma vida soturna, depressiva e francamente realista que James Gray nos apresenta nesta longa-metragem nomeada no Festival de Cannes e nos César Awards de 2008.
A expectativa era enorme à partida para ver este filme. Dos textos que havia lido, todos eles o referenciavam como um grande filme, um dos melhores de 2008. E a verdade é que nenhum deles se engana, a verdade é que é um filme fenomenal. Um drama romântico clássico que Gray filma magistralmente. Um Joaquim Phoenix portentoso, fabuloso e Paltrow a…impressionar.
Mas é todo o classicismo que preenche o filme, todo o ambiente que James Gray cria desde o início do filme que nos prende à obra.
Todo o desenvolvimento em tons de negro num caos hipotético que é criado dá a ideia que a história vai acabar mal, o que não é necessariamente mentira, dependendo do ponto de vista. Mas Gray cria uma mente instável e que nem ela própria sabe o que fazer, que caminhos tomar, porque o amor é aqui o grande âmago da história.
E se a história é banal, porque o é, a forma como é narrada, a mão de Gray transforma-a numa história emocionante e tocante. Porque o filme nunca cai em lamechices, porque apesar de Leonard passar à frente da tela quase o filme inteiro, porque apesar de Leonard tentar o suicídio logo no início do filme, apesar de toda a instabilidade mental e emocional (no inicio os pais falam em doença bipolar), apesar de quando rejeitado ele se desfazer em lágrimas, apesar disso tudo Gray nunca nos leva a um ambiente lamechas, ao típico ambiente novelístico do coitadinho que sofre por amor.
Não, aqui ele envereda por outra vertente, aqui ele fecha uma porta mas abre outra (relativamente a Leonard), aqui ele não cai no facilitismo de encontrar a tragédia que vai assolando o filme desde o início e cria uma história mais real, menos melodramática, mais credível.
E aqui não há final feliz nem trágico, há o final apropriado, o final mais real e credível para o senso comum, o final que nos deixa satisfeitos porque era o que nós faríamos.
E o amor é isso, é tentar tudo por ele mas parar quando se percebe que não há mais nada a fazer.
E é esse realismo sem ser exasperado que faz de “Two Lovers” um filme magnífico. São os planos magníficos que Gray filma que enaltecem a obra, a simplicidade de uma beleza ímpar de Gray filmar os pormenores, os detalhes para uns desnecessários que Gray prova serem necessários. É a beleza de Gray contar uma história de amor de modo arriscado mas competente, de modo a não cair nos clichés, de modo a fugir ao mainstream, de modo a retirar o que de melhor um actor pode dar ao filme.
Porque há realizadores que têm essa capacidade, esse dom de conseguirem arrancar uma portentosa interpretação a um mediano actor (o que não é o caso). E Phoenix transcende-se, mergulha na interpretação de uma vida e dá corpo a Leonard de um modo de tal apaixonante que sem ele o filme não alcançava tal proeza.
E a instabilidade emocional de Leonard oscila entre o amor obsessivo e incerto mas explosivo e cego, e a certeza de uma relação com futuro e lealdade mas que não ultrapassa essa calma e paz interior que lhe traz, essa consolação de ter estabilidade, essa paixão acesa que falta e que encontra na outra.
Por outras palavras, uma dualidade de atitudes que Leonard tem de adoptar, a escolha entre o amor e a razão, a decisão entre o que o coração lhe pede e o que a cabeça lhe indica.
E independentemente das condições que o fazem decidir, das adversidades que sucedem, Leonard vai ter que decidir. Porque o que Gray quer mostrar é o poder do amor vs o poder da mente, da “reabilitação”, da resignação – porque muito que custe, ela chega, porque nunca ninguém morreu de amor.
E o filme é isso, essa dualidade de sentimentos, esse conflito entre amor e razão, essa viagem emocional que Leonard vai fazer e que lhe vai deixar marcas.
E se o tema é banal, a realização, as interpretações, a luz e as sombras, a mise-en-scène de Gray torna tudo extraordinário, clássico.
P.S. - Amei!
Mesmo tendo "fechado os olhos" numa cena importante... era impossível que não acontecesse, embalada daquela maneira... Desculpa...
Mesmo tendo "fechado os olhos" numa cena importante... era impossível que não acontecesse, embalada daquela maneira... Desculpa...
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