quarta-feira, 15 de julho de 2009

Parabéns Sr. Presidente...


Cavaco Silva celebra hoje 70 anos de vida.

De Boliqueime ao Palácio de Belém, foi um longo percurso, marcado por sucessos académicos e profissionais, primeiro, e depois por grandes sucessos políticos, nunca entretanto ultrapassados, como as duas maiorias que governaram o País de 1987 a 1995. E por uma absoluta estabilidade familiar.

Se em 2011 for reeleito presidente da República, deixará o cargo com 77 anos. Mário Soares deixou-o com 72 anos (e aos 80 tentou lá voltar), Jorge Sampaio com apenas 65 e Ramalho Eanes com uns incríveis 51 (e tinha 41 quando foi pela primeira vez eleito chefe do Estado, por ter comandado militarmente o 25 de Novembro de 1975). Cavaco Silva será, portanto, de todos os presidentes eleitos depois do 25 de Abril, o mais velho a deixar o Palácio de Belém.
Não é por acaso.

O Presidente entrou tarde na política. Só depois do 25 de Abril, com 35 anos, inscrevendo-se no PSD, entusiasmado com Sá Carneiro e preocupado com o rumo do País. Além do mais, é o único caso de um presidente da República eleito em Portugal depois de uma primeira candidatura falhada. Entre uma e outra passaram dez anos, os dez anos do mandato de Jorge Sampaio (1996-2006), até agora o único político que o derrotou nas urnas (mas também foi por ele derrotado, nas eleições legislativas de 1991).

A vida de Cavaco Silva divide-se claramente em três períodos: a infância e juventude, no Algarve, onde conheceu aquela que é ainda hoje a sua mulher, Maria; a formação académica em economia (com um doutoramento em York) e a entrada no mercado de trabalho (no Banco de Portugal); e a política, a partir de 1979, quando aceitou ser ministro das Finanças de Francisco Sá Carneiro, no primeiro Governo da Aliança Democrática (coligação do PSD com o CDS e o PPM).

De então para cá - e estão a passar este anos três décadas - Cavaco Silva nunca mais deixou a política. Pode ter feito pequenos retiros tácticos mas manteve-se sempre opinante. E, pelo meio, foi sempre insistindo que não é um político, imagem que cultiva com desvelo. Juntamente com outra: a de homem de família, chefe conservador de um clã que vai crescendo.



Cavaco, o triunfo do querer
(por Rui Hortelão)

Não sou político", disse Cavaco Silva a José dos Reis Cabrita, quando este o desafiou a candidatar-se a primeiro-ministro. Não mentiu. Escapavam-lhe muitas das características mestras do político comum e tinha consciência da dificuldade que teria em interpretar outras. Se foi atraído pela política que em 1976 aderiu ao PPD, foi receoso que assumiu quatro anos depois, a convite de Sá Carneiro, o seu primeiro cargo político, o de ministro das Finanças. Sentia-se capaz, porque em Cavaco Silva a insegurança é só aparente. Confunde-se muitas vezes com sua timidez, é verdade, mas não existe sempre que abraça um objectivo. Foi assim depois de chumbar no primeiro ano do curso e quando pediu uma segunda oportunidade aos pais para estudar. Foi assim quando aceitou ser ministro de Sá Carneiro e a seguir quando recusou sê-lo com Francisco Pinto Balsemão. Foi assim quando se propôs a liderar o PSD e quando tentou Belém logo após duas maiorias absolutas em S. Bento. Foi assim durante os anos em que se manteve afastado da política activa, enquanto reconstruía a imagem junto dos portugueses e aguardava que o tempo lhe fizesse justiça. Como fez.

Há muito que Cavaco Silva deixou de poder dizer "não sou político". Porque o é. Mais, como se tem visto desde que decidiu voltar, sabe sê-lo como poucos. Com virtudes que o distinguem e fazem dele um dos mais nobres nomes da nossa democracia. E com defeitos crónicos, já quase impossíveis de corrigir, e tentações políticas vulgares às quais, como qualquer outro, também não consegue resistir.

Será sempre, porém, um homem diferente. Pelas origens, pelo percurso, pelas conquistas.

Diferente ainda pela forma como se transformou aos olhos de todos nas últimas três décadas, mantendo-se aos 70 anos tão igual a si próprio, ao menino que jogava pião em Boliqueime, ao adolescente que um dia preferiu o bilhar e os matraquilhos aos estudos, ao adulto que se matou a estudar e sempre cultivou a família acima de tudo. Ao homem simples e descontraído que só os mais próximos conhecem. Aquele que vi por um instante em Dezembro de 2006.

Cavaco Silva acedera a fazer as primeiras fotografias no seu gabinete em Belém e a trocar impressões sobre aquilo que diria aos portugueses na sua primeira declaração de Ano Novo enquanto Presidente. Abriu uma porta sem saber quem estava do outro lado, relaxado e sorridente, como nunca o vira antes. A imagem dissolveu-se no segundo seguinte. Cavaco cristalizou-se assim que levantou o olhar e ficou igual a si próprio - sisudo, formal, distante. Mas já era tarde de mais. Ainda bem.

Afirma o autor e eu ;-)

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