domingo, 13 de abril de 2008

O Meu Instrumento de Negócio...


A Voz, pois então!
De facto, o que seria de mim sem voz?!
Penso nisto inúmeras vezes, e procuro ter o máximo de cuidado. Contudo, muitas são as vezes em que ao fim do dia, me sinto rouca, com a voz a sumir-se. Para quem trabalha todo o dia com a voz, ficar afónica é uma ideia assustadora.
Porque "o saber não ocupa lugar", aqui ficam algumas dicas sobre a voz. Vou fazer a minha parte!
Mas afinal, o que é a Voz?!

Desde sempre, que o homem sente necessidade de comunicar, sendo a voz um dos veículos de transmissão da mensagem, de forma a expormos as nossas ideias com clareza e eficácia. Também constitui um instrumento, relevante na socialização (como factor de estabelecimento das relações), estimulando reacções de interesse, de alegria, permitindo desenvolver afectividade. Pode-se considerar a voz, como o resultado da expressão corporal, dependente do bem estar físico e psíquico do indivíduo.
A voz, deve possuir um conjunto de características (intensidade, altura, duração e ritmo), permitindo um uso adequado e sua percepção agradável aos outros. Quando estas características, se alteram, instala-se um desvio, ou seja, deixa de ser aceite como “normal” se não estiver adequada ao sexo, à idade ou ao contexto sócio-cultural.

Como se produz a Voz?

1º Ao sentir vontade de falar, o cérebro transmite impulsos nervosos aos músculos do sistema respiratório;
2º esses músculos, ao contraírem-se, geram uma determinada pressão sob o volume de ar nos pulmões, que é forçado a subir ao longo da traqueia;
3º chegando à laringe (onde se situam as pregas vocais, formando um V invertido), o ar flui pelas pregas vocais, colocando-as em vibração, gerando um som;
4º esse som é modulado/amplificado, pelas estruturas do tracto vocal (cavidades de ressonância: faríngea, bucal e nasal e estruturas articulatórias, que se movimentam: lábios, língua e mandíbula), originando a voz, como um conjunto de sons da fala.

Qualquer alteração, ao longo desta via, quer seja por motivos estruturais e/ou comportamentais, irá condicionar uma boa qualidade vocal. As alterações da qualidade vocal designam-se por Disfonias.

O que prejudica a Voz?

Tabaco - Existe evidência científica quanto aos efeitos do tabaco na laringe, nomeadamente às alterações morfológicas e funcionais que ocorrem nas pregas vocais e consequentemente originam uma má qualidade vocal. A qualidade vocal vai-se deteriorando, muitas vezes sem que o indivíduo se aperceba, uma vez que esse efeito é gradual. O fumo do cigarro, causa irritação das pregas vocais (resultando em edema e inflamação), estas reagem, produzindo muco, que se acumula em toda a sua extensão (na camada mais superficial), favorecendo o aparecimento de pigarreio e da tosse, conduzindo à desidratação, assinalada pelo indivíduo como “garganta seca, arranhada, áspera ou com expectoração”;

Álcool - O consumo diário de álcool, principalmente de bebidas destiladas, como o brandy, wisky e aguardentes, levam ao mesmo conjunto de acontecimentos, descritos anteriormente. O efeito nocivo, instala-se lentamente. O pigarreio é frequente e a tosse matinal, constituem comportamentos agressivos a laringe e faringe;

Cafeína - Esta substância, existente no café, chá e coca-cola, tem um efeito de desidratação das mucosas do tracto vocal, assim como um factor de excitabilidade do sistema nervoso;

Refluxo Gastro-Esofágico (RGE) - Também chamado “azia”, o RGE (sucos gástricos que refluem) é extremamente agressivo para a mucosa da faringe e região posterior das pregas vocais, originando a sensação de queimadura. Deste modo, ocorre um aumento de produção de muco e consequentemente a necessidade de pigarrear e tossir;

Poluição - A exposição prolongada, face à inalação de vapores tóxicos, (provenientes de fábricas, oficina de automóveis, limpezas domésticas), do pó (das casas; escola, como o pó da utilização de giz e respectivo apagador) e dos fungos e bolores de objectos guardados há muito tempo, em locais pouco arejados; podem constituir agentes agressivos paras as mucosas do nariz, faringe e laringe.

Diferenças de Temperatura - Os indivíduos sujeitos a mudanças de locais com diferentes temperaturas, como a utilização de câmaras frigoríficas, ou espaços de temperatura elevada com menor (ar condicionado) ou maior grau de humidade (estufas); levam à desidratação das mucosas do nariz, faringe e laringe; estimulando a ocorrência de pigarreio;

Mudanças de estação de ano - Durante estes períodos, com relevância na primavera, com a inalação do pólen circundante no ar, aumentam a sensibilidade das mucosas das fossas nasais, desencadeando espirros frequentes, corrimento nasal, pruridos, dificuldades em manter uma respiração nasal. De igual modo, pelos factores descritos anteriormente, estes episódios levam à desidratação e abusos vocais constantes como o pigarreio e a tosse, que provocam atrito intenso nas pregas vocais;

Bebidas quentes e geladas - A temperatura do nosso corpo é constante, mas sempre superior àquela existente numa bebida fria/gelada como a água, cerveja ou leite provenientes do frigorífico, provocando uma vasoconstrição da região faríngea e laríngea e assim uma diminuição do lúmen dos espaços de ressonância (limitando amplificação da voz);

Stress - Situações geradores de stresse, muitas vezes evidenciado pelo cansaço, tensão muscular, espasmos musculares, palpitações, suores, etc. acabam por influenciar negativamente a qualidade de voz.Boca seca, diminuição de amplitude da mandíbula, imprecisão articulatória, diminuição do lúmen da faringe, levam a um voz, produzida numa laringe em contracção muscular, percepcionando uma voz “apertada, tensa, em esforço”;

Mau uso e Abuso Vocal - A permanência de comportamentos vocais como o pigarreio e a tosse (abusos vocais); gritar, falar muito (com poucas pausas), falar muito alto (principalmente contra um ruído de fundo), falar depressa demais, ausência de entoação melodia (voz monocórdica) ou a utilização de uma intensidade e altura tonal numa frase de forma desadequada; resultam em alterações na qualidade vocal.


Sinais e sintomas de alerta:

Sensação de esforço, de secura, de comichão, de queimadura, de corpo estranho na garganta, fadiga vocal (fonastenia), rouquidão progressiva e/ou persistente por mais de 2 semanas, dor persistente na garganta ou durante a deglutição, aparecimento de uma "massa" no pescoço, pigarreio constante; que ocorrendo com alguma frequência, poderão ser indicativos de patologia vocal.

Cuidados a ter com a Voz: manter uma voz saudável, requer alguns cuidados diários:

Hidratação - beba água, em pequenos golos, ao longo do dia, à temperatura natural (2l/dia);
Faça gargarejos com uma solução salina em água tépida;
Lave as fossas nasais com soluções aquosas (como o soro fisiológico) ou vaporizações diárias;
Reduza a ingestão de bebidas como o álcool, café, bebidas com cafeína, chá preto e bebidas gaseificadas e o consumo de pastilhas à base de menta, que podem provocar desidratação;
Não fume, evite frequentar ambientes com fumo;
Evite ambientes com ar condicionado;
Faça repouso vocal, após o uso prolongado de voz ou uso vocal de intensidade muito forte;
Utilize uma articulação adequada (com movimentos amplos da língua, dos lábios), velocidade do discurso moderada;
Evite usar a voz (em duração e intensidade) sempre que esteja “constipado”, ou em crises de alergias;
Reduza o consumo de condimentos na alimentação (como o piripiri) provocam azia e má digestão; Mantenha um estilo de vida saudável (faça desporto, tenha uma alimentação equilibrada, durma no mínimo 8h, passeie, relaxe e divirta-se).

P.S. - No próximo dia 16 de Abril, assinala-se o Dia Mundial da Voz. Neste contexto, o Hospital de Santa Maria está a realizar rastreios gratuítos à voz, até dia 16.
O objectivo da iniciativa é «consciencializar a população sobre a importância da voz e os cuidados necessários a ter para uma voz saudável» e «identificar indivíduos em risco de perturbações vocais e encaminhá-los para os serviços de saúde adequados».
A terapeuta Ana Mendes, explicou que «uma voz saudável é a pessoa sentir-se bem com a própria voz», sendo que existem alguns sintomas de uma voz com problemas, como rouquidão, fadiga vocal ou falta de clareza e projecção. No caso dos sintomas de uma voz pouco saudável permanecerem mais de dez dias, a Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala (APTF) aconselha a consultar um terapeuta da fala ou um otorrinolaringologista.
Ana Mendes esclareceu ainda que para evitar problemas na voz é necessário ter alguns cuidados, como «exposição demasiada a ruído e a poluição», para além de abuso da «expressão vocal» que acontece por exemplo em «jogos de futebol».
A Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala representa os profissionais de Saúde responsáveis pela prevenção, avaliação, tratamento e estudo científico da voz, e faz regularmente rastreios.
(Fonte - Ministério da Saúde)

2 comentários:

Psiquiatra Angustiado disse...

O meu instrumento de trabalho é também (entre outros): a voz! Não tenho particulares cuidados com ela, evito locais com fumo, não abuso do café, não bebo bebidas gaseificadas e/ou muito frias. Evito elevar a voz a ponto de provocar um esforço excessivo, e procuro dormir o suficiente para a manter clara e límpida. Sigo, não tantas vezes quantas as necessárias e recomendáveis, uma série de exercícios que me foram propostos em diversas acções que recebi sobre o modo como melhor tratar o meu principal instrumento de trabalho. Não bebo água na quantidade que deveria, é talvez um dos pecados que cometo, mas evito manobras de risco se souber que no dia seguinte vou fazer uso da minha voz.

NG disse...

Já diz o ditado - "no previnir é que está o ganho" ;-)