" Sempre que vejo um elevador, lembro-me daquele episódio que vivi junto de um, há cerca de dez anos. Acompanhada de um amigo que caminhava ao lado da minha cadeira de rodas eléctrica, aguardávamos que a porta de um elevador abrisse para nos conduzir ao parque de estacionamento. Connosco duas mulheres à espera do mesmo, aparentando 40 e 60 anos, parecidas exteriormente e similarmente ignorantes - devia, ser mãe e filha. "Ah coitadinha, será de nascença? Já viste? Até estou maldisposta...", dizia uma para a outra em tom audível. O meu Amigo começou a respirar fundo, eu fingi que não era comigo, e o elevador que não chegava... Dizia então a mais velha, "Nem consigo olhar, é que quando vejo estas coisas... fico toda arrepiada", sem o mínimo esforço para eu não ouvir. A soar a defesa, o meu Amigo deu um passo em direcção à dupla e eu puxei-o com o desabafo: " A porcaria do elevador nunca mais abre!".
Qual clímax de um filme dramático, uma delas leva as mãos à cabeça e solta um grito: "Ai fala e tudo!". Ou seja, até aqui desculpei os comentários proferidos, porque a senhora pensava que eu não ouvia, falar então... que surpreendente! O meu Amigo quase perdeu a cabeça e falou por cima dela: "Mas afinal, o que é que você quer? "Ver estas coisas"... quais coisas...? Ela é uma pessoa, ouviu?". O circo estava instalado. Quando eu pensei que a mulher tinha caído em si, enganei-me redondamente. Perguntou-lhe se ele era da família e tentou baixar-se, infrutuferamente, para se aproximar de mim. "Peço desculpa, não queria ofendê-la, mas é que quando vejo estas coisas, penso sempre... mais valia que Deus a levasse!" Acho que pela primeira vez senti uma bolada no estômago! É possível alguém referir-se a outra pessoa tão insensivelmente? O meu Amigo cagou, só não partiu para a violência porque a porta abriu. Eu? Orgulhei-me dele e tive pena delas... Elas perderam o elevador."
Qual clímax de um filme dramático, uma delas leva as mãos à cabeça e solta um grito: "Ai fala e tudo!". Ou seja, até aqui desculpei os comentários proferidos, porque a senhora pensava que eu não ouvia, falar então... que surpreendente! O meu Amigo quase perdeu a cabeça e falou por cima dela: "Mas afinal, o que é que você quer? "Ver estas coisas"... quais coisas...? Ela é uma pessoa, ouviu?". O circo estava instalado. Quando eu pensei que a mulher tinha caído em si, enganei-me redondamente. Perguntou-lhe se ele era da família e tentou baixar-se, infrutuferamente, para se aproximar de mim. "Peço desculpa, não queria ofendê-la, mas é que quando vejo estas coisas, penso sempre... mais valia que Deus a levasse!" Acho que pela primeira vez senti uma bolada no estômago! É possível alguém referir-se a outra pessoa tão insensivelmente? O meu Amigo cagou, só não partiu para a violência porque a porta abriu. Eu? Orgulhei-me dele e tive pena delas... Elas perderam o elevador."
Esta "coisa" que ouve e pior que fala, ainda tem o dom de escrever.
Hoje a M. celebra mais um aniversário. tive o prazer de a conhecer pessoalmente, alguns meses após o lançamento do seu livro "Mafaldisses - crónicas sobre rodas", da papiroeditora, altura em que gentilmente me autografou o meu exemplar. Já antes a admirava e depois de a conhecer o sentimento, o respeito e admiração só saíram reforçados.
M. desejo-te um excelente Aniversário, que possas continuar a ser um exemplo de força e de vida, para os que sem vida teimam em passar por aqui... És a prova viva, de que a vida é para ser vivida a cada momento.
"Morre lentamente...
quem não encontra graça em si mesmo...
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não encontra graça em si mesmo...
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar...
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante..."
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante..."
Pablo Neruda
Nota - O texto reproduzido pode ser lido em "Mafaldisses - crónicas sobre rodas", e tem por título Elevador. O Poema de Pablo Neruda aqui citado não podia ter sido melhor escolhido... foi de resto também a escolha da F.F. para o prefácio do Livro!
1 comentário:
Olá, olá...
cá está a "M"
a obrigadar-te;)
É sempre bom quando falam de nós. Para mim melhor ainda é quando escrevem sobre nós, ou sobre a nossa escrita.
Portanto agradeço-te a atenção, o carinho, as palavras e a generosidade! Que possamos estar em breve olhos nos olhos e num tempo mais demorado. Toma conta da nossa loira gata por mim, usufrui da presença brilhante da nossa amiga (a inveja que eu tenho tua por isso!) e continua a blogar que também te virei ler.
Beijinhos da M, agora com 26 anos!
P.S. - a propósito, sabes quem é bebé amanhã? O Mafaldisses!
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