domingo, 1 de fevereiro de 2009

Revolutionary Road


Já lá vão onze anos desde que o mundo foi abalado por um fenómeno chamado Titanic.

Para além dos espantosos números de bilheteira, o filme de James Cameron conseguiu a proeza de consagrar um novo par romântico: Kate Winslet e Leonardo DiCaprio.
Talvez se esperasse que Winslet/DiCaprio se transformassem numa “receita” de muitos filmes, à maneira de outros pares clássicos de Hollywood.
Mas não. Foi preciso esperar até agora para os vermos juntos naquele que é um dos títulos fortes da produção americana de 2008: Revolutionary Road, de Sam Mendes.

Muita coisa mudou, sem dúvida.

Leonardo DiCaprio, porventura o mais subtil actor americano da geração nascida na década de 70, continuou a exibir a sua versatilidade através do trabalho com Woody Allen (Celebridades), Steven Spielberg (Apanha-me Se Puderes) ou Martin Scorsese (Gangs de Nova Iorque, O Aviador e Entre Inimigos).

Quanto a Kate Winslet, a sua fulgurante maturação desemboca na espantosa composição em Pecados Íntimos, de Todd Field.

Revolutionary Road nasce da confluência de tudo isso (para além de valer a pena não esquecer que Kate Winslet e Sam Mendes são casados desde 2003): estamos perante um filme ancorado no trabalho específico dos actores, sendo inevitável recordar que a experiência do realizador como encenador teatral não é alheia à excelência dos resultados.
Mas seria redutor encarar Revolutionary Road como um mero tour de force dos actores. É bem certo que eles são, de uma só vez, cristalinos e imprevisíveis na representação das crises de um casal do Connecticut, em meados dos anos 50.

Seja como for, ao adaptar o romance homónimo de Richard Yates (publicado em 1961), a realização de Sam Mendes visa a complexidade de uma época de grandes transformações nos modos de vida da “classe média”, desse modo apostando na revitalização do género melodramático tal como foi cultivado por mestres como Vincente Minnelli ou George Cukor.
Da arquitectura da época ao kitsch dos automóveis ou elementos de decoração, nada disso existe como ostentação.

Ao contrário das ficções de raiz televisiva, aqui nada é estritamente decorativo. Através de elementos como esses, Sam Mendes ajuda-nos a perceber a dolorosa distância entre a ideologia de felicidade de uma época e os sentimentos mais fundos, porventura menos confessáveis, de cada personagem: Revolutionary Road é um filme sobre as diferenças entre a utopia e a realidade, o desejo de amar e a crueza, afinal banal, de uma relação amorosa.
A história de um jovem casal em busca de uma vida plena numa época marcada pelo conformismo. Aprisionados num mundo de convenções codificadas, eles sonham sem fé, à medida que as mentiras e a ilusão despoletam consequências explosivas.

Devo confessar que estranhei, mas depois entranhei.
Vale a pena ver!!

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