quinta-feira, 4 de junho de 2009

Tiananmen 20 anos...


Faz agora 20 anos, o braço-de-ferro entre os manifestantes pró-democracia que ocupavam a Praça Tiananmen e as autoridades de Pequim termina tragicamente: os blindados esmagam a multidão e fazem milhares de mortos.
A Primavera de Pequim terminava abruptamente como a de Praga terminara 11 anos antes.

Durante os anos 60 a China comunista e o seu líder Mao Tsetung foram o modelo inspirador para uma boa parte da esquerda europeia. Morto Mao e iniciado o que parecia ser um processo de reformas, as últimas ilusões desvaneceram-se em Junho de 1989, quando o movimento estudantil pró-democracia foi, literalmente falando, esmagado pelos tanques do Exército Popular de Libertação.

Uma repressão implacável que fez esbater os excessos da Revolução Cultural maoísta.O movimento da Praça Tiananmen começou em Abril, como reacção às restrições impostas ao funeral do dirigente reformador Hu Yabong que, em 1987, recusara reprimir um outro levantamento estudantil.

Durante dois meses, estudantes, operários e desempregados vão ocupar a mais simbólica das praças de Pequim, pedindo coisas que, parecendo triviais no Ocidente, como as liberdades de expressão e reunião, naquele contexto apareciam como profundamente subversivas para um regime que, do capitalismo, apenas queria aproveitar a parte económica, "esquecendo" a componente democrática e liberal.

Se os primeiros enfrentamentos são relativamente suaves, opondo soldados e manifestantes desarmados, o clima agudiza-se rapidamente.

Nos bastidores, a luta entre o liberal Zhao Zyiang, secretário-geral do PCC e o "falcão" Li Peng, primeiro-ministro, termina com o afastamento do primeiro.Nuns casos, soldados e manifestantes confraternizam. Noutros, há veículos incendiados e militares linchados.

À meia-noite de 4 de Junho, o 27º Corpo de Exército irrompe pela praça, precedido de carros de combate. Aos manifestantes esmagados pelas lagartas dos tanques ou metralhados juntam-se os feridos, abatidos a sangue-frio, pois a ordem parece ser a de não fazer prisioneiros. Consoante as fontes há de 1.500 a 4.000 mortos.

Muitos dos presos serão, nas semanas seguintes, executados com uma bala na nuca.Ao meio-dia de dia 5, a Rádio Pequim proclama: "Soubemos sufocar o motim contra-revolucionário". A que custos, o mundo inteiro testemunhou...

O homem-mistério que enfrentou os tanques

Quando os tanques retiravam da Praça de Tiananmen, um homem fez-lhe frente. Tornou-se um ícone deste episódio, ainda que ninguém saiba o seu nome ou o que lhe aconteceu...

Não tem nome nem rosto, mas a sua valentia tornou-o um ícone do massacre na Praça de Tiananmen. No dia 5 de Junho de 1989, após os tanques do Exército de Libertação do Povo Chinês terem desocupado a Praça da Paz Celestial, um homem solitário, com dois sacos de compras nas mãos, parou diante de uma coluna de tanques de 18 tanques, bloqueando a sua passagem.

Em marcha lenta, o tanque dianteiro tentou, então, contornar o homem pela sua direita, ao que ele respondeu com firmeza e determinação dando meia dúzia de passos no mesmo sentido para bloquear o veículo. Quem acompanhava a cena, tinha a sensação de que, a qualquer momento, o tanque ia irromper sobre aquele pedestre e esmagá-lo.

Porém, acontece o inverso. Os tanques imobilizam-se, parecendo mesmo desligar os motores e o homem sobe ao tanque. Debruçou-se na escotilha e ali ficou a falar para dentro do tanque.
Momentos depois, desceu do tanque e retomou a sua postura de desafio, colocou-se diante da coluna. Aproximaram-se então cinco homens - um de bicicleta e quatro a pé, aparentemente cidadãos comuns - e o homem saiu de cena com eles. A sua identidade - bem como o seu destino - permanece um mistério até hoje.

O único comentário oficial das autoridades chinesas foi feito pelo antigo Presidente Jiang Zemin, numa entrevista em 1990, em que afirmou: "Não posso confirmar se esse jovem que mencionou foi preso ou não. Julgo que nunca foi morto".

3 comentários:

Pedro Nascimento disse...

o mais incrivel é que se perguntares a um chinês comum com menos de 20 anos acerca do assunto, a resposta será que não fazem ideia do que se trata, o governo chinês "abafou" de tal forma que esse assunto foi "retirado do mercado".

beijo

ps. obrigado :)

Anónimo disse...

Tiananmem, China

Desde aquele dia, ganharam um significado diferente para todo o mundo… primeiro pela chacina que houve, depois pelo acto mais simbólico, de paz, de poder, de humildade e de coragem… que alguma vez fora registado!
Apesar da minha tenra idade, na data dos acontecimentos, recordo-me… da forma como vi a comoção de quem via televisão ao meu lado, e a forma como dizia, “aquele (também) vai ser morto!”
E a mais uma morte, mais que anunciada, aconteceu o impensável… ou seja… nada!

Na história da civilização moderna, estas imagens são sempre apresentadas, com o sinonimo de poder, vontade, humildade, paz, ousadia, coragem e determinação…
O que um simples cidadão do mundo, negando-se a depositar por um momento que seja, as suas compras, os seus sacos, e recusando-se a compactuar com uma situação de limite humano… o exemplo que foi, que é e que será para todo sempre!

Quantas pessoas no mundo, se sujeitariam a tal acto?

20anos depois, fica o registo de ainda haver prisioneiros, graças a esta “tentativa” de progresso… uma parte destes prisioneiros, ainda hoje, não foi formalmente condenado por qualquer tipo de crime hipotético que possa ter cometido. Outra parte desses seres encarcerados, foram julgados por leis que entretanto deixaram de existir, ainda assim não foi suficiente para a automática libertação desses indivíduos!

Continua haver duas Chinas, uma para consumo interno, outra para consumo externo, embora já estejam mais perto, uma da outra!
De qualquer forma e também por este motivo, o meu destino de sonho continua a ser a China, Tiananmen, a Cidade Proibida e a Muralha mítica da humanidade…

P.S.: Mais uma vez… Parabéns pelo teu texto (blog).

Beijos… PT

Helder Gomes da Silva disse...

Passou 20 anos mas a liberdade continua a não existir naque pais. O governo percebeu que se queria continuar no poder precisava de dar algo material ao povo, mais dinheiro, possibilidade de ter carros, telemoveis, compotadores, etc., de modo a não repararem que continuam amordassados.
O poder demonstrou ser muito inteligente e assim, com uma economia capitalista e um regime ditatorial, consegiu-se manter por 20 e talvez por mais 200 ou 2000 anos.