terça-feira, 23 de junho de 2009

Uma, de muitas, faces do Irão...


A morte de Neda, uma jovem iraniana, foi filmada e o vídeo colocado no You Tube. A rapariga está a transformar-se num símbolo da revolta da oposição iraniana, que pede a recontagem dos votos das presidenciais.

Não se sabe muito bem como começou a divulgação deste vídeo que mostra a morte perturbadora de uma jovem iraniana que, com cerca de vinte anos, foi morta nos protestos da oposição.

Atingida por uma bala no peito, Neda - como lhe chamam na Internet - é já um dos tópicos (ou hashtags) mais vistos no Twitter.

O vídeo que mostra a sua morte e a tentativa de reanimação por parte daqueles que se acredita serem seus familiares está a circular pelos websites e televisões de todo o mundo.

Neda é uma das vítimas da repressão do regime iraniano, que impediu os protestos a favor de Mousavi. Os manifestantes acreditam ser este o legítimo vencedor das eleições presidenciais no Irão.

O candidato Mousavi já pediu - com o apoio de alguns líderes internacionais como Angela Merkel - a recontagem dos votos. Os protestos duram há vários dias e, até à data, terão provocado pelo menos treze mortes.

A imprensa internacional compara a jovem iraniana assassinada no último sábado, durante protesto em Teerã, ao rebelde chinês fotografado em frente a uma fila de tanques na Praça da Paz Celestial, em Junho de 1989.
Neda Agha Soltani levou um tiro durante uma das manifestações que se tornaram rotina no país desde a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, no dia 12 de Junho. A oposição acusa o governo de fraude na eleição e não aceita a vitória do candidato conservador.

Jornais de diferentes partes do mundo estamparam nas primeiras páginas imagens da morte de Neda.
Apesar de a imprensa internacional ter sido impedida de filmar e fotografar as manifestações da oposição, os iranianos têm usado a internet para espalhar pelo mundo episódios violentos registrados no país.

A comparação entre Neda e o chinês, ainda hoje considerado símbolo da repressão no país asiático, foi feita pelo jornal britânico The Independent, que destaca que a iraniana não escolheu ser uma mártir, não se colocou em frente às câmaras - que sequer estão autorizadas no país. Ainda assim, a difusão de sua história pelo mundo motivou manifestações e tornou seu rosto a imagem da luta contra o governo iraniano.

As publicações americanas Chicago Tribune e New York Times e as brasileiras Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo e O Globo, por exemplo, escolheram fotos das manifestações em outras partes do mundo pela morte de Neda. Uma das imagens mais difundidas é a de velas, mensagens e fotos reunidas em Dubai, nos Emirados Árabes, em homenagem à jovem assassinada.

O jornal chileno El Mercurio e o americano Los Angeles Times optaram por uma imagem mais forte, dos últimos instantes de vida da iraniana. A gravação que mostra algumas pessoas tentando reanimar Neda logo depois do disparo, ainda no meio da rua, se espalhou pelo mundo ainda no fim de semana, por meio do site de vídeos YouTube, apesar das dificuldades impostas pelo governo para o acesso à internet.

Sob o título "Eu sou Neda. A face trágica do Irã", o jornal The Times estampa sua capa com fotos da jovem estudante de Filosofia antes da morte trágica e outra estlizada do momento em que ela foi ferida, com o rosto ensanguentado.

Segundo disse o noivo de Neda à BBC, sua família foi proibida de realizar um funeral para a jovem. Caspian Makan disse que as autoridades religiosas e a milícia Basij, pró-governo, impediram os parentes de realizar uma cerimónia religiosa dedicada à jovem numa mesquita por temer que ela se torne um símbolo dos protestos.

"As autoridades estão cientes de que todos no Irã e em várias partes do mundo sabem o que aconteceu com Neda", afirmou Makan, que se identificou como fotojornalista. "Eles temiam que muita gente fosse à cerimónia religiosa, e eles não querem mais confusão", disse.

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